A vida de Santa Bernadette Soubirous (1844-1879) é um grande exemplo de sacrifício e paciência nos sofrimentos. Ela nasceu em 7 de janeiro de 1844 no moinho Boly, perto de Lourdes. Aos 10 anos, a família foi expulsa do moinho e tiveram que morar num calabouço cheio de umidade e mofo chamado masmorra, antiga cadeia do lugar. Passavam muita fome. Às vezes, tinham apenas pães velhos como alimento de um dia inteiro para todos, ou nem um pão. Faziam sopas aguadas cozinhando ossos e carnes catados no lixo ou recebidos de amigos. Bernadette era analfabeta na época das aparições de Nossa Senhora em Lourdes, nem sequer falava francês, mas apenas um dialeto daquela região. Depois teve pouco estudo, mas vemos que tinha uma grande sabedoria nas palavras que disse. Em 1857, Bernadette foi morar por uns tempos na casa de sua ama de leite para se alimentar melhor. Trabalhava ali pastoreando as ovelhas sozinha. Só sabia rezar o Terço e a invocação: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós.” Tinha voltado a Lourdes em janeiro de 1858 para fazer a Primeira Comunhão aos 14 anos. Não havia feito antes por causa dos trabalhos. Teve dificuldade em memorizar o Catecismo. No mês seguinte, de 11 fevereiro a 16 de julho de 1858, teve as 18 aparições de Nossa Senhora e disse: “Se você soubesse o que eu vi de bonito ali naquela gruta... Se você soubesse como Nossa Senhora é boa... Tão bela! Não consigo achar bonita nenhuma imagem de Nossa Senhora, depois de ter visto a original. Eu só irei para o Céu se for boa e me comportar corretamente. Verei Nossa Senhora de novo no Céu. Vai ser mais bonito.” Milhares de pessoas começaram a procurá-la em sua casa ou onde estivesse. Todos a acharam muito humilde, simples e bondosa, mas ao mesmo tempo, muito normal como todas as meninas. Era muito franca, sincera e transparente. Era muito procurada no convento por pobres, ricos, religiosos, autoridades, mendigos e doentes. Apesar disso, atendia todos do mesmo jeito, nunca diferenciava nem exaltava ninguém. Sempre atendia a todos com boa vontade e dizia: “Vou rezar por vocês.” Nunca perdia a paciência com tantas visitas e muitos alcançaram graças com suas orações. Aos que a chamavam de santa, dizia: “Estão enganados.” Nunca aceitou dinheiro e pedia que dessem à paróquia ou às irmãs. Alguns a tratavam como celebridade nas ruas de Lourdes, mas ela continuou humilde do mesmo jeito de antes das aparições. Tiram fotos de Bernadette e vendiam por um franco cada. Ela riu e brincou: “Vendem as fotos por mais do que eu valho!” Sofreu muitas perseguições do prefeito e autoridades de Lourdes por causa das aparições. Ele lhe disse: “Você aqui, descarada?” Ela respondeu: “Sim, senhor, estou aqui.” Ele disse: “Nós vamos te prender na cadeia.” Ela respondeu: “E que esteja bem trancada, senão eu fujo.” Em 1866, aos 22 anos, se tornou freira no convento da cidade de Nevers, França. Ela sentia falta de Lourdes e da gruta, mas dizia: “O tempo que temos no mundo pouco. É preciso que o usemos bem.” Havia religiosas que não gostavam de seu jeito natural, franco e sincero e não perceberam sua grande santidade. As madres lhe fizeram passar por várias e sofridas humilhações. Quando sua mãe morreu, ela disse: “Meu Deus, o Senhor quis! Eu aceito o cálice que me dá. Bendito seja o teu Nome!" Na morte do pai, nos contou: "Sempre tive uma grande devoção à Agonia de Nosso Salvador. No sábado à tarde, rezei a Jesus na Agonia por todos aqueles que iam morrer nesse momento, e foi precisamente no mesmo momento em que meu pai entrou na eternidade. Que alegria para mim se o tiver ajudado!” Sofreu de asma e outros problemas de saúde por toda a vida e oferecia tudo pela conversão dos pecadores. Ela dizia: “A Virgem quer que eu sofra. Eu preciso. Cura não é para mim. O Bom Deus sabe porquê. Tenho que ser vítima. Levarei com valentia e generosidade a cruz oculta em meu coração. Minhas armas são a oração e o sacrifício, que conservarei até o meu último suspiro. Somente então cairá a arma do sacrifício, mas a da oração me acompanhará até o Céu, onde será bem mais poderosa do que nesta Terra de exílio.” Uma irmã contou: “Bernadette tinha crises de asma, ataques de tosse que quase arrebentavam o seu peito. Mesmo vomitando sangue e sufocando, nunca deixava escapar nenhum lamento, nenhuma reclamação. Apenas olhava para o Crucifixo e dizia: ‘Meu Jesus.’” Ficava tão mal que recebeu a Unção dos Enfermos três vezes, sobrevivendo a todas. Após uma delas, brincou: “Estou melhor, o Senhor não me quis. Fui até a Porta Dele e Ele me disse: ‘Volta pra trás! Ainda é muito cedo!’” Quando ficava dias de cama, dizia: “Minha ocupação é sofrer. Esta cama e seu cortinado branco é a minha capela branca.” As irmãs diziam: "Não é bom ser Bernadette.” Noutra ocasião: "Quando a emoção é muito forte, recordo as palavras de nosso Senhor: ‘Sou eu, não tenham medo.’” Um dia, Bernadette mostrou à uma irmã que ela fazia mal o Sinal da Cruz: “É preciso ter atenção, pois fazer bem o Sinal da Cruz significa muito.”As irmãs diziam: “A maneira como ela fazia o Sinal da Cruz nos impressionava profundamente. Tentamos várias vezes fazer igual, mas não conseguimos. Ela fazia bem feito porquê Nossa Senhora fez o Sinal da Cruz na primeira aparição. Isso ficou em Bernadette por toda a vida.” Outra irmã disse: “Eu estava em Nevers havia três dias, e me fiquei admirada por ainda não reconhecer quem era a Bernadette. A superiora disse: “Bernadette? Olha ela aqui!” Eu exclamei: “Só isso?” Bernadette me respondeu brincando: ‘É verdade! Sou só isso!’ E depois disso, ficamos muito amigas.” Apesar de tanto sofrer, era a mais bem humorada e brincalhona de todas. Cuidava dos doentes e da sacristia com muito amor e paciência. Depois de uma oração, aconselhou: “Qualquer hora, cante: ‘Com minha mãe estarei.” Pedia sempre às irmãs para rezarem por ela: “Rezem por mim, pobre pecadora, principalmente na hora da morte.” Sobre as irmãs corrigirem seus defeitos: “Mas, como? Receber com tanta freqüência o Pão dos fortes e não ser mais corajosa?” Suas doenças pioraram em 1878 com uma forte otite que lhe causou uma surdez temporária que lhe causou muito incômodo e um tumor nos ossos que doía muito. Foi totalmente entregue e paciente à vontade de Deus na doença. Ela rezou: "Ó Jesus! Ó Maria! Fazei que todo meu consolo neste mundo consista em amar-vos e sofrer pelos pecadores. Ó Jesus, mantenha-me sob a bandeira da tua Cruz. Que esse Crucifixo não esteja apenas em os meus olhos e no meu peito, mas no meu coração, vivendo em mim. Que eu seja um Crucificado vivo, transformado nele pela união com a Eucaristia, pela meditação sobre a sua vida e os sentimentos mais profundos do seu Coração, chamando as almas, não para mim, mas para Ele, do alto da Cruz, onde a vida e o amor me unem para sempre." Em março de 1879, recebeu a Unção dos Enfermos pela quarta vez e disse: “Peço perdão por todas as faltas à madre e a todas as minhas irmãs.” Na Semana Santa, de 6 a 13 de abril, disse: “Estou toda esfolada. Não tenho forças nem para respirar.” No dia 16 de abril de 1879, pediu apenas o Crucifixo: “Este me basta.” Olhou-o e segurou-o o tempo todo. Mas suas poucas forças deixava cair. Pediu que o amarrassem, dizendo: “Meu Jesus, quanto te amo!” Uma irmã lhe disse: “Você está na Cruz.” Outra irmã presente pediu para Nossa Senhora lhe dar consolo. Bernadette respondeu: “Não, consolo, não. Mas força e paciência.” Estava cheia de feridas nas costas que não podia nem deitar. Teve que dormir sentada numa poltrona. Sentindo imensas dores por todo o corpo dizia: “Estou sendo moída como um grão de trigo. Minha paixão vai durar até a morte.” Às três horas da tarde deu um grande grito: “Meu Deus!” As irmãs começaram a rezar o Terço. Bernadette respondeu com voz forte: “Santa Maria Mãe de Deus, rogai por mim pecadora, pobre pecadora!” Às 3 horas da tarde, como Jesus no Calvário, disse: “Tenho sede.” Fez um grande Sinal da Cruz, tomou algumas gotas de água e inclinando a cabeça, entrega docemente a alma aos 35 anos. Foi beatificada em 1925 e canonizada em 1933 pelo papa Pio XI. Seu corpo se encontra incorrupto até hoje, como muitos disseram, parecendo estar dormindo.