Nascimento e infância: São Toríbio Gonzalez nasceu em 16 de abril de 1900, no pequeno povoado de Santa Ana de Guadalupe e batizado como José Toríbio Gonzalez. Tinha pele e cabelos claros e olhos azuis. Foi batizado no dia seguinte ao que nasceu. Sua família era muito piedosa e desde pequeno o menino tinha muita fé. Sua irmã Maria foi quem lhe inspirou a ser padre. Aos 7 anos, recebeu a Primeira Comunhão. Ele disse para a sua irmã:
- Quica, este é o dia mais feliz da minha vida.
- Não, Toríbio. É o dia que Jesus se entregou a você por toda a vida. Mas no dia em que você se tornar sacerdote, você se entregará a Ele por toda a eternidade.
Toríbio também ajudou na construção de uma capela.
Acólito: Aos 9 anos, seus pais lhe permitiram ir à cidade de Jalostotitlán, onde passou a freqüentar a escola guiada pelo Padre Miguel Rodriguez que deu especial atenção vendo a bondade e piedade do menino. Ali, Toríbio foi acólito da Paróquia Nossa Senhora da Assunção, de quem tinha grande devoção. Quando os sinos tocavam às 6 da manhã, Toríbio e sua irmã se levantavam e iam para a Santa Missa, onde ele ajudava como acólito com profunda devoção. Por mais de um ano, ele e sua irmã enfrentaram grandes problemas para poderem permanecer na cidade e pagarem as despesas. Maria se levantava às 4 horas da manhã para fazer tortillas e moer. Toríbio levava as tortillas para comer na escola. Depois das aulas, o pequeno Toríbio sempre visitava o Sacrário na igreja e ia aos pés da imagem de Nossa Senhora e ali rezava o Terço.
Seminário: Em 1912, aos 12 anos, Toríbio foi para o seminário. Queria ser um pastor de ovelhas, e como Jesus, dar a vida por elas um dia. Ali no seminário, Toríbio se destacou por uma serenidade sólida e forte, assim como sua obediência e férrea disciplina. Foi considerado um modelo de observância e regulamento. Era alegre e cheio de amizades. Seus amigos seminaristas gostavam muito dele. Com um grupo desses seminaristas, fundou uma associação chamada ACJM. Nela estudavam juntos, especialmente as encíclicas do Papa Leão XIII. Toríbio demonstrava muita compaixão e indignação contra as injustiças cometidas contra os trabalhadores. Era o mais entusiasmado e de mais alta voz pelo povo. Com isso, conquistou o carinho dos habitantes da cidade. Mas também, começou a ganhar críticas das autoridades, que costumavam matar quem os criticavam.
Sacerdote: Em 1920, Toríbio foi para as missões em sua terra natal. Seus primeiros sermões comoveram os corações dos ouvintes. A grande alegria de Toríbio em suas férias na terra natal era ensinar o catecismo a todas as crianças. As crianças eram o pedaço mais querido de seu coração. Neste mesmo ano, ele foi para o seminário de Guadalajara para continuar seus estudos. Ele se especializou em pedagogia catequética e em sindicalismo cristão. Em 5 de agosto de 1921, Toríbio foi ordenado diácono. Antes desta data, ele visitava freqüentemente o Santíssimo Sacramento preparando-se para a ordenação. Ele consagrou seu serviço sacerdotal ao Sagrado Coração de Jesus, à Virgem de Guadalupe e a São José escrevendo: “Vede, oh Rosa Mística e Mãe da Divina Graça, olhai esta pobre flor desgarrada e seca. Refrescai-a, perfumai-a e a fazei bela. Vede, oh São José, a quem se encomendou no jardim do Senhor esta planta pisoteada por todos os que passam. Sustentai-a, regai-a e levantai-a para que talvez se torne digna de adornar o teu altar no Céu. Jesus, Maria e José, vossos corações são a minha alma. Jesus, Maria e José, assisti-me em minha última agonia. Jesus, Maria e José, convosco descansa em paz a minha alma.” Após ser ordenado, foi para férias onde se dedicou novamente à catequese. Ele fazia procissões e entronizações dos lugares e casas consagrando-os ao Sagrado Coração de Jesus, à Virgem de Guadalupe e a São José. Em 3 de setembro de 1922, Toríbio foi ordenado sacerdote. Celebrou sua primeira Missa em sua terra natal com a grande alegria do povo e em sua capela preferida. Em Saruya, organizou uma Primeira Comunhão de mais de 200 crianças numa sociedade fria e relaxada na fé. Ele disse a seus companheiros padres: “Ofereçam seus grandes sofrimentos a Nosso Senhor.” Anos mais tarde, foi para Tuxpan e depois para Yahualica, terra fecunda de devoção aos padroeiros. Neste lugar, o Padre Toríbio não teve oportunidade de trabalhar com as crianças, mas foram muitas as alegrias que teve com os trabalhos entre os pobres. Ali, ele conheceu Demetrio Mora, que se tornou sacerdote de renúncia e santidade, e também o jovem Augustín Yañez, que mais tarde foi uma dos grandes homens do México. O Padre Toríbio escreveu: "Senhor, perdoai-me se sou atrevido, mas lhe rogo que me concedas este favor: não me deixeis nem um único dia de minha vida sem dizer a Missa, sem vos abraçar na Comunhão. Dai-me muita fome de Ti, uma sede de receber-te que me atormente por todo o dia enquanto não houver bebido dessa água que brota até a Vida Eterna, da rocha bendita de vosso Corpo Chagado. Meu Bom Jesus, te rogo que não me deixeis morrer sem celebrar a Missa nem um só dia."
Provações: Uma das maiores provações que o Padre Toríbio passou foi quando o Bispo lhe proibiu, para sua segurança ali, de rezar o Terço publicamente e celebrar a Santa Missa, pois Toríbio sempre denunciava as coisas erradas da época. Isso causava irritação às autoridades e ameaças aos padres que faziam isso por parte do governo. Então, o Padre Toríbio procurou o Padre de Cuquío, que vendo a situação de Toríbio, pediu ao arcebispo que o aceitasse como padre ajudante do lugar. Ali o Padre Toríbio continuou suas pregações fortes e humanas, sempre denunciando o mal que estava perto do povo.
Guerra dos Cristeros: Nesta época, acontecia a perseguição aos católicos, a chamada “guerra dos cristeros”, onde muitos foram martirizados e feridos. Enquanto eram presos e caminhavam para o martírio, eles gritavam: “Viva Cristo Rei e a Virgem de Guadalupe!” Toríbio e outros padres começaram a serem alvo dos perseguidores. Suas vidas de padre começaram a ser difíceis, sempre fugindo e tentando não serem descobertos por eles, mas tinham sempre o mesmo ardor de sacerdotes para rezar e ajudar o povo. Alguns paroquianos lhes protegiam, abrigavam-nos em suas casas e os alimentavam. Havia também aqueles paroquianos que não os ajudavam quando eles precisavam se esconder em alguma casa, por medo das autoridades perseguidoras. Algumas vezes, o Padre Toríbio e os outros permaneciam alguns dias afastados de seus queridos paroquianos para não serem presos. Em alguns momentos, eles precisavam fugir a pé, outras vezes a cavalo, sempre se escondendo pelas ruas, matas desérticas da região ou nas casas. O maior tormento para o Padre Toríbio era ficar muitos dias sem poder celebrar a Missa. Nas fugas e esconderijos, ele e os outros padres usavam roupas e chapéus comuns para não serem reconhecidos, deixando de lado a batina.
Escritos e perseguições: Nos momentos de perseguição, o Padre Toríbio escreveu: “Senhor, perdoai meus pecados e recebei o sacrifício de minha vida por ser perseguido por causa da justiça. É amorosamente abrasador ver seus filhos perseguidos por teu Santo Nome. Se for necessário, derramarão a última gota de seu sangue para seu Cristo Rei.” Ele também escreveu: "Peço ao Deus verdadeiro para que termine este tempo de perseguição. Vejam que nem a Missa podemos celebrar a Cristo. Tirai-nos desta dura provação: viverem os sacerdotes sem celebrar a Santa Missa... Ainda assim, quão doce é ser perseguido por causa da justiça. Tormenta de duras perseguições é ter Deus permitido sobre a minha alma pecadora. Bendito seja o Senhor! Até a presente data, 24 de junho, por dez vezes tive que fugir, me escondendo dos perseguidores, algumas fugas duraram quinze dias, outras oito... Em algumas tive de ficar sepultado por até quatro longos dias em uma estreita e fétida cova. Em outras me fizeram passar oito dias no alto das montanhas sujeito a toda sorte de intempéries: sol, água e sereno. A tempestade que nos encharcou teve o gosto de ver outra que veio para não nos permitir secar, e assim passamos molhados os dez dias..."
Suas perseguições e fugas se prolongaram por 11 meses até que em uma paróquia o Padre Toríbio se encontrou com o arcebispo Francisco Orozco e aí se escondia. Padre Toríbio se emocionou ao encontrar um arcebispo que o ajudaria e se abraçaram em lágrimas. Depois, ele passou 5 meses na cidade de Tequila. Tequila era então uma das cidades onde as autoridades civis e militares mais perseguiam aos sacerdotes. Mesmo assim, ele foi sem medo, disposto a tudo o que lhe ordenavam. Ficou morando numa fábrica abandonada. Ali era seu refúgio seguro onde celebrava Missas. Ele pressentia que seria martirizado de qualquer maneira e disse: "Tequila, vocês me oferecem um túmulo, eu lhes dou meu coração".
Ali se reunia com os vizinhos para a Santa Missa e o Terço. À noite, Padre Toríbio saía para visitar os doentes. Algumas vezes, ele celebrou a Missa na casa de algumas famílias muito piedosas. Em dezembro de 1927, seu irmão, o Padre Román, foi ordenado sacerdote e Padre Toríbio se dirigiu à sua cidade natal para a primeira Missa dele. Depois se despediu de seus amigos padres e seus queridos paroquianos. As autoridades desconfiaram e os dois irmãos precisaram se esconder por 3 dias em um poço. Depois conseguiram fugir novamente. Ao se voltar para a cidade em que ficou hospedado, deu uma bênção no ar, com os olhos cheios de lágrimas. Ele parecia pressentir que era a última vez que estava ali. Depois, prosseguiu em seu caminho voltando para Guadalajara.
Últimos dias: Em janeiro de 1928, os dois se encontravam em Tequila e já atuavam na comunidade. Dias depois, a irmã Maria os acompanhou e ajudou com alegria. Durante as perseguições, os dois voltavam a se esconder nos buracos, casas e poços. Mas Padre Toríbio dizia: “Os superiores não me mandaram esconder, mas ajudar estas pobres almas. E eu tenho que cumprir com meu dever de sacerdote. Não devo fugir da batalha, mas enfrentar todas as perseguições. Que seja feita a vontade de Deus. O meu único medo é de não cumprir com minha obrigação de sacerdote.” Em 22 de fevereiro de 1928, o Padre Toríbio e o Padre Román celebraram a Missa daquele dia, Quarta-feira de Cinzas. Depois, pediu a seu irmão que fosse celebrar no outro dia em outro lugar e lhe deu uma carta, pedindo que não a abrisse até que tivesse notícias dele. Pediu ao seu irmão que o ouvisse em Confissão e lhe desse uma grande bênção. Padre Toríbio pareceu se despedir do irmão. E foi esta realmente a última vez em que se viram. Padre Toríbio passou o dia 23 de fevereiro no oratório. No dia 24 de fevereiro, dedicou-se a resolver algumas necessidades da paróquia. Ele parecia pressentir que algo o esperava. Ele disse a sua irmã Maria: “Se me procurarem, diga que estou muito ocupado, a não ser que se trate de algum enfermo.” Ela se ofereceu para ler alguma coisa e ele aceitou. Depois, ele explicou o Catecismo às crianças que se preparavam para a Primeira Comunhão. Depois de rezar o Rosário e o Oficio Divino, ele se pôs a terminar a documentação de matrimônios e de batismo. E disse à noite: “Não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje. Prepare o Altar para o Sacrifício da Santa Missa.” Ela o fez.
Martírio: Amanhecia o dia 25 de fevereiro de 1928. Às cinco da manhã, Padre Toríbio preferiu repousar um pouco para melhor celebrar a Missa naquela manhã. Uma tropa de soldados e chegou com um senhor a quem Padre Toríbio enviou correspondência. Eles invadiram o lugar e o encontraram no quarto. Um fazendeiro o reconheceu e disse: “Este é o padre. Matem-no.” Mandaram-no para fora e atiraram matando-o. Sua irmã o pegou morto nos braços e disse: “Ânimo, Padre Toríbio. Jesus misericordioso, recebe-o. Viva Cristo Rei.” Padre Toríbio a olhou serenamente e em seguida faleceu em paz, com apenas 27 anos. Eles colocaram o corpo de Padre Toríbio na montaria de um cavalo diante dos paroquianos, que começaram a chorar e rezando, já o veneravam como santo mártir. Depois de zombarem do corpo, os carrascos o deitaram no meio da rua. A família Plascencia conseguiu permissão para velar o corpo e sepultá-lo. Seu irmão, ao finalmente receber a notícia de que Padre Toríbio foi martirizado, abriu a carta para ler. Ela dizia: "Padre Román, deixo-lhe encarregado de nossos pais já velhinhos, faça o quanto puder para evitar-lhes sofrimentos. Também lhe deixo responsável por nossa irmã Quica que tem sido para nós uma verdadeira mãe... De todos, de todos peço que cuide. Aplique duas Missas que devo em intenção das Almas do Purgatório, e pague três pesos e cinqüenta centavos que fiquei devendo ao senhor cura de Yahualica..."
Veneração e canonização: São Toríbio Romo González foi beatificado em 22 de novembro de 1992 e canonizado pelo papa João Paulo II em 21 de maio de 2000. Por ter passado por tantas perseguições e fugas, ele é o padroeiro dos refugiados, dos perseguidos e imigrantes e invocado por eles, onde muitos afirmam ter alcançado graças e sentido a sua presença e proteção.
Aparições de São Toríbio a refugiados:
Na fronteira com o México, três imigrantes sem documentos tentando se refugiar nos Estados Unidos foram abandonados pelo guia no deserto e estavam prestes a morrer de sede e calor. Eles disseram que um jovem chegou até eles ali vestindo-se com roupas normais. Ele lhes deu água e os acompanhou até a estrada mostrando o caminho certo a seguir. Ele lhes disse: “Vou deixá-los aqui, continuarei meu caminho.” Depois, foram vistos por pessoas na rodovia que os levaram ao hospital, em cujo saguão há uma foto de São Toríbio. Um deles perguntou: “Quem é este homem na foto? Foi ele quem nos ajudou a sair do deserto.” As pessoas lhes contaram que era São Toríbio, falecido há décadas antes e canonizado pela Igreja. Outro imigrante, agora morador de Los Angeles, Califórnia, ia morrer no deserto e foi resgatado pelo mesmo homem. Ao ser perguntado o seu nome, respondeu que era Toríbio Romo, originalmente de Jalisco. Enquanto estavam na estrada, na conversa Toríbio disse que era de Jalostotitlán. Depois o deixou seguro ali. Tempos depois, o imigrante tentou localizar este Toríbio Romo, mas nunca o encontrou, até que foi a uma igreja e percebeu que ele era o mesmo da fotografia do santo mártir que estava na parede.